12 de jun. de 2015
Assim como a moda, os padrões de beleza estão em constante mutação. Seja para se adequar às roupas da estação, seja para nos deixar loucas da vida enquanto tentamos aderir aos arquétipos vigentes, as tendências não param quietas. Basta olharmos para os outdoors que, pronto!, a cor dos cabelos da garota-propaganda já mudou, a chapinha deu lugar a fartos cachos, e as unhas, antes longas e escuras, estão curtas e claras. Acompanhar as tendências não é tarefa fácil. Que o digam as modelos, que vivem de exibir tudo o que o mercado é capaz de lançar.
Nos últimos 50 anos, desde a popularização dos concursos de beleza, o que se viu nas passarelas foi um verdadeiro samba do crioulo doido. Das gostosonas às sequinhas, os mais variados biotipos serviram de inspiração e estamparam armários adolescentes. Marilyn Monroe marcou os anos 50 com suas curvas e coxas generosas, para logo em seguida a londrina Twiggy levar água abaixo toda a fartura com seu corpo esquálido. Um pouco mais adiante surge Cindy Crawford, inaugurando a era das passarelas e dos cachês milionários. Na década de 90, é a vez de Kate Moss reformular o conceito do sex appeal e, andrógina, deixa muitos marmanjos confusos com sua beleza indefinida.
Todas essas mulheres, cada qual em seu tempo, foram ícones do mesmo patamar de Gisele Bündchen. Pode parecer difícil de acreditar, mas algumas décadas pra frente, é bem provável que Gisele - ela mesma – caia no esquecimento para dar espaço às novas vertentes. O padrão de beleza que a supermodel vende está longe de ser compatível com os largos quadris e fartos seios que nossas mulheres têm como marca registrada. De onde, então, surgiriam essas tendências? O produtor de moda Antônio Frajado avalia: "A beleza, assim com a moda, está sempre relacionada a padrões. A magreza imposta pela moda atende à necessidade de venda. Afinal, o corpo magro de uma modelo valoriza a roupa e, conseqüentemente, vende mais. A moda responde a um desejo pela juventude e pela magreza, duas coisas que toda mulher quer". E Antônio sabe o quanto um corpo livre de dobrinhas facilita seu trabalho. “É muito mais fácil vestir uma mulher magra. Qualquer coisa cai bem, o que ajuda demais na escolha das roupas”, admite. Por estar sempre em busca do look perfeito, o produtor compartilha das dificuldades que as curvilíneas passam na hora das compras. “Sei o quanto é problemático, pois as modelagens maiores estão restritas a lojas mais conservadoras. Para uma mulher moderna, não há tantas opções”, lamenta.
Gisele pode até ser a bola da vez, mas nem sempre foi assim. Outras bolas, bem redondas até, já foram as responsáveis por desnortear homens mundo afora. Durante a renascença, as gordinhas abalaram as estruturas com suas fartas curvas. Tinham tanto orgulho das sobras, que as exibiam – sem roupas ou pudor –  para que os melhores artistas da época as imortalizassem em pinturas. Cada curva tinha um porquê e atendia a uma necessidade diferente. Se o excesso de gordura garantia uma reserva para a gestação, quadris largos facilitavam o trabalho de parto e seios volumosos eram perfeitos para amamentar. La Bündchen, com seus míseros 52 quilos, distribuídos por 1,79 metros, teria ficado para a titia, encalhada da silva.
O único período em que não existiu um padrão dominante foi na Idade Média. Mas essa fase, em que as mulheres viveram de bem com seus espelhos, não durou muito. Durante o renascimento, voltou a imperar o ideal greco-romano de beleza, que elegeu o equilíbrio das formas como um objetivo a ser alcançado. Nada de mais, e nada de menos, apenas o necessário. E assim foi dada a largada para os regimes, cirurgias plásticas e distúrbios alimentares.
O pintor e escultor colombiano Fernando Botero, pintando gordinhas e gordinhos de bochechas rosadas, ficou famoso por sua releitura dos ideais de beleza do renascimento. Nascido em 1932, Botero trabalhava na contramão da tendência de sua época, que valorizava cinturinhas de pilão, contidas por corseletes e cintas. Parece que o artista apenas antecipou a profusão de campanhas publicitárias que pipocam atualmente. A mais célebre dessas campanhas, da marca Dove, explora a diversidade feminina e busca o belo em variadas formas de expressão. A idéia da campanha da Dove, intitulada “Real Beleza“, surgiu a partir dos resultados de uma pesquisa realizada pela StrategyOne com 3.200 mulheres. A pesquisa avaliou como essas mulheres, compreendidas entre os 18 e 64 anos, e pertencentes a dez países – dentre os quais o Brasil – se sentiam diante do espelho.
Os resultados, que revelaram que a maioria das mulheres está insatisfeita com sua aparência, espantaram a psicanalista Susie Orbach, uma das coordenadoras da pesquisa. Surpreendentemente, as brasileiras ficaram em segundo lugar no índice de insatisfação física (37%), perdendo apenas para as japonesas (59%). Mariana Le Brun foi uma das modelos da primeira campanha da marca. Aos 25 anos, a roteirista assume já ter feito muitos regimes, mas, diferentemente da maioria das mulheres, para ganhar peso. "Morria de vergonha das minhas pernas finas, e não usava saia por nada. Cheguei até a tomar suplementos, só que percebi que quanto mais eu me preocupava com isso, mais insatisfeita eu ficava", recorda. Mariana nunca foi modelo, mas adorou participar da campanha. “Achei a idéia muito bacana. Acredito que muitas mulheres devem ter se sentido aliviadas. Agora, achar que ela é capaz de mudar o padrão de beleza atual me parece ilusório”, opina. Se estamos sendo exigentes demais com nós mesmas, a insatisfação será difícil de ser contornada. Marta Rocha foi Miss Brasil na década de 50 com 98 centímetros de busto e 100 de quadril, números hoje bem distantes do esperado das passarelas.
A vontade que muitas mulheres têm por se adequar aos padrões atuais é responsável por histórias dramáticas e até casos fatais. Quando, em 1996, a modelo Claudia Liz submeteu-se a uma lipoaspiração, acabou num coma que durou quatro dias. Além das cirurgias plásticas que são realizadas desnecessariamente, meninas desenvolvem cada vez mais cedo anorexia e bulimia, doenças que se tornaram um problema a partir da década de 80 e do sucesso de modelos como Linda Evangelista, Claudia Schiffer e Cindy Crawford. E a moda, claro, sempre acompanhando a tendência. A dançarina Sheila Mello, do grupo É o Tchan, é uma das vítimas da mudança da numeração dos manequins – cada vez menores. Quando fazia compras numa loja de grife de São Paulo, Sheila, acostumada a vestir calças de número 40, ficou surpresa ao perceber que teria que levar para casa um modelo 46. Na época, a dançarina expressou sua indignação com o fato de muitas marcas estarem deixando de seguir os moldes do corpo da brasileira.
Se correr atrás de medidas ínfimas é uma tarefa difícil e arriscada, o melhor a fazer é procurar a beleza particular que existe em cada uma de nós. Ao invés de se envergonhar, a apresentadora Angélica fez de sua pintinha uma marca registrada, exigindo que a mesma fosse incluída em sua boneca. De estigma a trunfo, Angélica soube como lidar com sua peculiaridade. No dia em que aprendermos a valorizar nossas características tão pessoais, difíceis de serem imitadas, certamente encontraremos um Botticelli para pintar-nos como Vênus, estonteante com sua cintura larga e olhar misterioso.
Fonte: bolsademulher 

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